Parte 1 – Apontamentos sobre as peregrinações históricas do conceito de cultura
Obviamente não podemos negar o fato de que o conceito de “cultura” está passando por transformações drásticas nestas últimas décadas tendo como base o conceito de cultura tradicional praticado desde a Antiguidade até a Era Moderna. A cultura considerada como um suporte ou um aparato “interpretativo” da realidade moldado segundo “as capacidades” de cada classe (ou cada indivíduo) para atuar frente a realidade. Poderíamos fazer um comparativo com “ideologia”, mas a cultura obviamente é um tanto mais profunda do que isso. Mas, o fato é que a cultura é um suporte indispensável para a compreensão da realidade circundante e, obviamente e desta forma, para as ações diárias e para o desenvolvimento dos relacionamentos que potencializam as nossas ações no cotidiano.
Daí o fato de a cultura ser “classificada” em classes (a redundância é proposital). Cada pessoa ou cada classe social tem a sua própria cultura porque em uma forma particular de entender a realidade. Se para alguns a ideia de ser “sujeito da história” e “controlar seu destino” lhe é agradável enquanto forma de interpretação da realidade para outros “o destino” e a “fatalidade inevitável” lhes é mais apropriada. Nem preciso dizer que para o primeiro grupo tem um potencial de intervenção mais agressivo do que o segundo grupo. Então a cultura era nas palavras de Karl Marx “cada um segundo sua capacidade e cada qual segundo suas necessidades”. Assim era entendida a cultura “Toda contribuição artística costumava ser endereçada a uma classe social específica, e somente a ela – e era aceita apenas ou basicamente por essa classe. O triplo efeito dessas contribuições artísticas – definição de classe, segregação de classe e manifestação do pertencimento a uma classe – era, segundo Bourdieu, sua razão de ser, a mais importante de suas funções sociais, talvez seu objetivo oculto, quando não declarado” (pg 6)
Um mundo ordenado onde a liberdade de escolher e a capacidade de consumir cultura estava diretamente relacionada ao enfrentamento de “medos subjetivos” que dominavam o imaginário coletivo ou individual de cada um. A velha história do trovão. Um homem ouviu o trovão e logo construir um “altar” para que o Deus Trovão não o atacasse. Quanto mais o trovejava e mais vezes ele escapava mais ofertas ele fazia para esse Deus Trovão reforçando a lógica que ele mesmo criara para explicar o “livramento” de não ser morto por um trovão.
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