O conceito de forma trabalhada na obra do professor Milton Santos para exemplificar transformações no espaço geográfico não é nova e não é de autoria exclusiva dele. O conceito de forma – conteúdo (também reconhecido na analogia da aparência e essência) é uma categoria de análise muito utilizada na filosofia grega através de Aristóteles. Por meio dela é possível compreender que objetos (objetos técnicos – forma – aparência) podem carregar em si mesmo expectativas emotivas e afetivas de forma a moldar comportamentos e ações humanas (sistemas de ações – conteúdo – essência). Trabalhar a forma a ponto dela “se parecer ou imitar” o conteúdo é uma boa forma de condução social afirmava o filósofo. O mesmo que dizer que trabalhar a “aparência” afim de que ela “se pareça ou imite” a essência como uma boa forma de condução social.
Esse sistema de dualidade funcionou de forma tão coerente que Aristóteles ajudou Alexandre o Grande na construção de um Império Macedônico da mesma forma que ajuda as grandes corporações a expandir e consolidar o Capitalismo Global. Os Produtos oferecidos pelas corporações são objetos técnicos (formas aparência) carregadas de afetividade (conteúdo essência) que criam crenças e moldam comportamentos nas pessoas. As corporações não vendem apenas produtos, mas vendem sentimentos e aspirações humanas através destes objetos. É neste ponto que podemos afirmar sim que o espaço geográfico sob a ótica do capitalismo (e toda sua manifestação através de cidades, bairros e lugares) é um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações...
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