Capítulo 01 – Uma palavrinha a mais sobre a Natureza e o conceito de Espaço
O conceito de espaço é peça chave da obra do professor Milton Santos, mas nesta obra ele busca associar esse conceito a uma questão de método afim de que ele seja mais “claro” e “utilizável” para grande parte de seus leitores. Então, como todos sabemos, é preciso fazer um exercício de abstração para acompanhar o professor em seus raciocínios. Vamos lá...
O conceito de espaço agrega fatores “sociais” e “naturais”. Não há segredo: sociais advém do resultado das relações humanas em um dado ambiente (chamados de sociedade), e naturais advém de forças que já estavam dispostas antes do homem agir (chamados de natureza). Agora quando o autor propõe que entendamos “espaço assim definido seja considerado como um fator da evolução social não apenas uma condição” (pag11) ele nos leva a pensar que o homem não é estático, mas sim dinâmico. Ele transforma a “natureza” através de sua ação (criando o social), mas também é transformado por essa natureza neste processo. É o que poderíamos chamar de movimento dialético:
Para Hegel, a dialética é responsável pelo movimento em que uma ideia sai de si própria (tese) para ser uma outra coisa (antítese) e depois regressa à sua identidade, se tornando mais concreta. Apesar disso, Hegel também afirma que a dialética não é apenas um método, mas consiste no sistema filosófico em si, porque não é possível separar o método do objeto, porque o método é o objeto em movimento[1].
Então o que temos é um movimento dialético: homem transforma natureza e natureza transforma o homem. O homem derruba uma árvore e constrói uma casa (não dorme mais no relento) e essa transformação (a casa) altera a visão deste mesmo homem sobre “espaço” e “moradia”. E neste processo foram se introduzindo outros elementos: cadeira, cama, guarda roupa, fogão etc. Cada introdução destes objetos cria uma “nova visão espacial” o que demanda mais transformação da natureza (mais matéria prima) e esse ciclo tende a se intensificar com o tempo. Daí a afirmação “consideramos o espaço como uma instância da sociedade, ao mesmo título que a instância econômica e a instância cultural – ideológica”(pag 11). É uma instância econômica porque diz respeito a materialidade (produtos e serviços), mas também é uma instância cultural e ideológica (ideias e formas de pensar a realidade ao seu redor) porque altera a forma como o homem se relaciona com seus próprios espaço e com seus pares”. Não é um agente ativo agindo sobre o outro agente passivo, mas sim dois agentes se influenciando mutuamente. A natureza não é tão passiva quanto imaginamos.
A afirmação evidência o fato “ele contém e é contido pelas demais instâncias assim como cada uma delas o contém e é por ele contida”(pag12). Então agora não temos mais um “agente dominador” e um “agente dominado”, mas sim uma relação dialética onde o que influência é influenciado claro que nem sempre na mesma proporção. A essência do espaço é social porque para Milton Santos o social só se dá por meio de um movimento contínuo e dialético e nunca em uma “via de mão única”, mas sim sempre em uma “via de mão dupla” (dialética). O espaço inclui as coisas (elementos materiais e naturais), mas não se resume a elas “o espaço não pode ser apenas formado por coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo conjunto nos dá a Natureza. O espaço é tudo isso mais a sociedade”
O espaço contém essa dinâmica que na maioria das vezes está “oculta” a maioria das pessoas que só enxergam a “paisagem” tal como ele afirma “a maneira como esses objetos se dão aos nossos olhos na sua continuidade visível”, isto é paisagem” (pag 12). A continuidade da paisagem é visível, mas a dialética do espaço é “oculta”. Você pode facilmente identificar os elementos que compõe uma paisagem urbana (casas, lojas, shoppings, estacionamentos, lanchonetes etc) no entanto, é mais trabalhoso identificar o espaço (o valor social de cada casa que envolve vizinhança, envolve barulho ao redor do imóvel, a força da comunidade local, facilidade e preço em comércios etc. Tudo isso depende das pessoas que habitam no espaço e de como elas se relacionam). Quando pensamos “no valor social” destes objetivos inevitavelmente temos que pensar nos “processos” que criam condições para o estabelecimento de “funções” que cada uma destas funções se estabelecem no território através de formas que são amplamente reconhecidas: “Processo é uma palavra com origem no latim procedere, que significa método, sistema, maneira de agir ou conjunto de medidas tomadas para atingir algum objetivo[2]”.
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