Capítulo 1 – O Sonho da pureza
O nosso querido Bauman neste primeiro capítulo faz uma referência explicita (mas ao mesmo tempo velada) sobre a questão da normalidade na nossa sociedade. A Sociedade Moderna herdou da Sociedade Medieval o desejo de “ordem e progresso” (não por acaso nossa bandeira tem esse lema). Se a Igreja Católica se esforçou durante mil anos para extirpar da sociedade qualquer tipo de “anormalidade espiritual” (que também se transvestiam de anormalidades sociais, culturais e humanas para contestar a ordem vigente), a modernidade (Era Moderna – Era dos Estados-Nação) também se transvestiu de ciência ou civilização para extirpar todo tipo de anormalidade social que viesse colocar em xeque a ideia de que a sociedade moderna era efetivamente mais evoluída do que a sociedade medieval”. Como bem descreveu o autor “a "questão social" cuja resposta eles procuravam sendo a questão da "poluição", da obstinada presença de pessoas que "não se ajustavam", que estavam "fora do lugar", que "estragavam o quadro" e, quanto ao mais, ofendiam o senso esteticamente agradável e moralmente tranquilizador da harmonia. Nos primeiros anos da idade moderna, como Michel Foucault nos lembrou, os loucos eram arrebanhados pelas autoridades citadinas, amontoados dentro de Narrenschiffen ("naus dos loucos") e jogados ao mar; os loucos representavam "uma obscura desordem, um caos movediço (...) que se opõe à estabilidade adulta e luminosa da mente"; e o mar representava a água, que "leva deste mundo, mas faz mais: purifica". A pureza é um ideal, uma visão da condição que ainda precisa ser criada, ou da que precisa ser diligentemente protegida contra as disparidades genuínas ou imaginadas” (pg 13)
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